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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Parte 2 de 6 - Relato de Parto Domiciliar - Nascimento da Pérola


"Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: Que o esplendor da manhã não se abre com faca” - Manoel de Barros


Em abril de 2014, com 18 semanas de gestação durante nossa primeira consulta é que enfim, consegui respirar aliviada: havia encontrado a equipe que atenderia o parto da Pérola. Antes disso eu já havia me consultado com uma médica e uma enfermeira, muito bem indicadas, que também fazem parto humanizado em Brasília, porém ainda vagava em mim o sentimento de estar perdida...

O local era acolhedor, cheirava à um cafézinho recém passado, lembrava a sala de casa, em que se senta no sofá e conta histórias da vida... foi ali que contei sobre os desgostos do meu primeiro parto e durante todo o pré-natal conversamos, papeamos, rimos das tiradas do Rafael, fui medida, pesada, apalpada para sentir a posição do bebê, a Anastácia pode ouvir o coração da irmã, ajudar a desenhar a irmã na barriga, brincar com as bonecas saindo do útero de pano, conversamos com franqueza sobre o parto, sobre as dores, sobre as dúvidas e os medos. Como um verdadeiro pré-natal deve ser, com olhos nos olhos e abraços ao chegar e sair do consultório. Assim, criamos o vínculo e a confiança necessária entre profissionais e pais para confiar e respeitar o tempo da natureza e do nascimento.

Confesso que até antes de mim o Rafael já tinha certeza de que nosso parto seria domiciliar, creio até que antes da Pérola existir dentro de mim. Mas foi em nossa primeira consulta com a Iara e a Ana Cyntia, enfermeiras obstétricas, que essa certeza tomou conta de mim: vamos ter a Pérola em casa.
Para isso seguimos todo o "protocolo" do parto domiciliar planejado, consultas mensais com as enfermeiras e paralelamente com um médico obstetra que fica de back-up caso necessitássemos de transferência para o hospital. E a cada consulta, exame, ultrassom, eu rezava muito para que Deus encaminhasse nossa gestação para atender a todos os critérios do parto em casa*, para o bem da Pérola, para o nosso bem.

Decidimos durante o pré-natal, não comentar com ninguém sobre nossa decisão. Acredito que essa atitude foi muito mais atendendo a um pedido meu do que um desejo do Rafael, pois por ele podíamos gritar aos quatro ventos e peitar todas as opiniões contrárias. No fundo, apesar da minha certeza e confiança na decisão tomada, sabia que muitas pessoas iriam questionar, falar, dar opinião contrária e até nos desestimular a seguir com nossos planos. E eu não queria o desgaste emocional de ter que ficar defendendo isso durante toda a gestação.

Somente no final da gestação, quando eu já entrava nas 37 semanas, é que compartilhamos e recebemos todo o apoio da minha cunhada Ana Amélia, que foi "convocada" a nos ajudar caso precisássemos no dia. Ela ficou de "back-up" principalmente se durante o parto a gente precisasse de ajuda com nossa filha Anastácia, então com 2 anos.

Um dos principais medos que eu tinha durante a gestação, e acho que todo mundo tem, era de não reconhecer que o trabalho de parto tinha começado. No final da gestação a gente sente tantas dorezinhas, tantas contrações de treinamento, que eu tinha medo de não saber diferenciar quando de fato fosse trabalho de parto. Mas, que ingênua, que tola... quando de fato começaram as contrações, eu soube e a natureza agiu para que não houvesse dúvidas. Outro medo constante era de que por ser meu segundo parto, as coisas evoluíssem tão rapidamente que não desse para a equipe chegar a tempo e a gente tivesse que fazer o parto sozinhos. As enfermeiras cansaram de me dizer que isso nunca havia acontecido com elas, mas deram as orientações necessárias ao Rafael, sobre as primeiras providências com mãe e bebê caso isso ocorresse. Agora eu sei porque isso nunca aconteceu com elas: não esperaram nem eu ter certeza do trabalho do parto e já disseram "Estou indo". Mesmo estando de madrugada, mesmo que fosse para ir a toa e que fosse um alarme falso, elas rapidamente estavam aqui na garagem, puxando casa à dentro as malas de rodinhas com todo o material para o parto.

Continua...

*De maneira geral, os critérios são ter uma gestação de baixo risco: estar a termo, entre 37 e 42 semanas, bebê cefálico (de cabeça para baixo), não ter pressão alta, diabetes gestacional e etc.



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