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domingo, 21 de outubro de 2018

Relato de Parto - Nascimento da Dandara

Era domingo de manhã, dia 8 de abril, dia de racionamento de água em Samambaia.
Há dois dias que eu sentia que as "contrações de treinamento" estavam mais frequentes e chegavam a incomodar. Descobri depois que isso eram o tal dos pródromos.
Nas minhas gestações anteriores não tive pródromos, o trabalho de parto já começava meio na loucura das contrações de verdade e não de treinamento. kkkkkkkk

Uma das preocupações desse final de gestação era o tal de racionamento de água, pois assim como no parto da Pérola, eu desejava muito ter a piscina a disposição com água quentinha para entrar durante o parto... E logo hoje, domingo, no auge dos nove meses, é o tal dia do racionamento.

Já acordei me oferecendo para ir pra casa do André e da Rafa (irmão e cunhada). Eu precisava sair, primeiro porque não queria gastar a água da casa. Em dias de racionamento, ficamos só com o que tiver na caixa, não sobe nada de água da rua. E segundo porque eu precisava sair, conversar, espairecer. Já fazia quase um mês que eu estava de licença maternidade, e o final da gestação estava sendo um teste de resistência, um humor nada agradável, dores no corpo, cansaço, e é claro a correria de já ter duas filhas.

Almoçamos no American Prime, um restaurante que adoramos, parecia mesmo clima de despedida da vida social, para ficar os próximos 40 dias com um bebê em casa. E depois passamos a tarde conversando, enquanto as crianças brincavam. Conversei muito sobre parto com a Rafa, sobre como eu estava cansada e ansiosa... e sobre métodos naturais para iniciar o trabalho de parto. Saí de lá com um pote de ervas para fazer escalda pés. Eu, a louca, que não estava nem com 40 semanas, achando que essa gestação já estava durando demais... Mal sabia que horas depois estaria com Dandara nos braços.

No final da noite, colocamos uns pagodes dos anos 90 e ficamos ouvindo na sala. Alguns minutos antes, quando ainda falávamos de parto, a Rafa tinha dito "Acho que essas contrações de treinamento estão eficientes, duram mais de 40 segundos." Mas eu ainda achava que "não eram nada".
Acho que foi quando tocou "Farol das Estrelas" que resolvi me levantar do sofá e dançar um pouco com o Rafael, e foi quando de fato senti a primeira contração com dor.. uma dorzinha fina... quase imperceptível, mas que foi o suficiente pra gente resolver ir embora logo pra casa.

Entrando no carro, o Rafael já começou a me pressionar para avisar logo a equipe de parto. Mas eu queria primeiro escutar meu corpo... no meio de tanta  música, criança, conversa e gente, eu ainda não conseguia perceber e definir se realmente era trabalho de parto. Mas afinal, era domingo a noite, não tinha trânsito, e eu não estava lá tão preocupada pois sabia que teríamos tempo suficiente para a equipe de parto chegar.

No carro eu fui olhando no painel o relógio e contando o intervalo entre as contrações. No balão de Águas Claras já estava claro que o trabalho de parto estava a todo vapor, contrações a cada 5 minutos, e eu avisei pelo grupo todo mundo que deveria estar conosco neste momento.
Antes de nós chegarmos em casa, a equipe toda e a Mari, fotógrafa já estavam a caminho também.

Chegamos. Era umas 22 hs. E eu pensei: teremos um parto nessa madrugada... Durante a gestação toda eu sentia que Dandara viria numa segunda-feira... e enfim estávamos nós aqui, agitando o domingo a noite das meninas do parto.
Pérola já chegou dormindo, e Rafael a colocou na cama dela. Anastácia já percebendo a agitação desde o carro, se mantém acordada e quer ajudar em tudo, pegar as bolsas, as roupas, encher a piscina... Nós a acalmamos e explicamos que provavelmente ainda vai demorar, que ela pode dormir, brincar, assistir um desenho, se acalmar...

Em alguns minutos Rafael começa a abrir a piscina na sala, com a ajuda da Anastácia. Mais alguns minutos e a Iara e a Ana Cyntia já estão estacionando os carros na garagem, logo após, a fotógrafa também. Como é bom ver nossas parteiras... como foi bom tê-las novamente aqui. Rostos conhecidos, fala que acalma, confiança que traz paz... E eu, inevitavelmente, me lembrei quando há quase 4 anos nós recebíamos Pérola nessa mesma casa...

Todo mundo chegou, se acomodou. Era mais de meia noite. Mediram minha pressão, fizeram um único toque durante todo o trabalho de parto: 4 centímetros, bebê alto. Luz do quarto apagada... ficamos eu e Rafael no quarto, ouvindo pagode dos anos 90 e conversando. Durante um bom tempo...
Entre uma conversa e outra, eu mexendo no celular, olhando aleatoriedades no Instagram e Rafael indo e vindo com a equipe e Anastácia na tarefa de encher a piscina. Ela estava animada com toda aquela agitação àquela hora da noite... Colocamos O Poderoso Chefinho na TV pra ela assistir, mas ela revezava entre assistir a TV e ir curiosa ver tudo o que estava acontecendo...


Iara entrava de vez em quando no quarto, conversava e me observava, depois percebi que ela estava contando as contrações, contando o tempo que duravam...
Acho que mais de uma hora depois as contrações "começaram a pegar". A conversa já não fluía, eu não conseguia mais ficar deitada... e eu queria ficar quieta. Pedi massagem na lombar para o Rafael e ele já começou a sugerir que eu fosse pra piscina. Ainda sentada na cama, eu pensava.. "pata que paréu, como é que a gente esquece que isso dói tanto..." . Uma vontade de chorar, de dor e de alívio ao mesmo tempo... logo tudo isso iria acabar. E cada dor era um sinal de que estava cada vez mais perto...

 Eu levantei da cama em direção à sala, ainda não estava convencida de que o parto estava realmente perto o suficiente para entrar na piscina e não ficar com os dedos enrugados. (kkkkkkkkk, quem leu o relato da Pérola vai se lembrar de que isso era uma preocupação pra mim).
Quando cheguei na sala Iara me perguntou:
- As contrações estão doloridas?
- Estão piores, eu acho...
- Envelheceu?
Rimos.
- É eu acho que sim. Estão doendo bastante...
(E dessa vez as contrações me pareceram bem mais longas... eu sentia meu corpo de um jeito diferente, sentia meu corpo todo... Dandara descendo aos poucos bem devagar, bem lentamente...)

Alguns minutos depois, me dei por vencida e concordei em ir para a piscina. Mesmo achando que iria demorar tempo demais para o parto... Na piscina as contrações continuam doendo bastante, continuo sentindo ela descendo devagar... Rafael entra comigo e fica fazendo massagem.

Acho que meia hora depois, chega aquele momento crucial do Trabalho de Parto, em que normalmente as mulheres pedem "Faz logo uma cesárea e acaba logo com essa dor..." kkkkkk... mas o que eu pedi foi. "Acorda lá a Peróla que já está perto de nascer...".

Ela foi acordada pelo Rafael, e ficou com aquela cara desconfiada com o tanto de gente ali. Sentou ao lado da Anastácia e ficaram assistindo alguma coisa no Tablet. Alguns minutos depois ela percebeu o que estava acontecendo e pediu para entrar na piscina. Eu disse que não, eu tinha pensado muito antes se elas iam ou não entrar na piscina, que sinceramente é pequena para 4 pessoas (kkkkkk) e que, além disso, eu tinha medo de no "aperto" meter um chute na cara de alguém (kkkkkkkk). Ela aceitou o "não" e ficaram algum tempo entretidas com o Tablet.


Nesses minutos, acho que foram uns 15 minutos, eu já estava mergulhada da Partolândia... as cenas ficaram na minha memória como se fossem rápidos fashes. A contração era bem dolorida e eu já sentia que ela estava para sair, mas ainda vinham contrações com muita dor e sem vontade de fazer aquela força do expulsivo.  Eu dizia pra ela: "Vem minha filha.. pode vir minha filha...". Coloquei a mão lá embaixo e senti o cabelinho dela, Iara segurou na minha mão... e de repente parece que eu liberei o fluxo do meu corpo todo e senti que ela já tinha descido totalmente, "na próxima contração ela nasce", pensei. Anastácia e Pérola  perceberam a movimentação na piscina (os gritos, eu diria com mais precisão kkkkkk), largaram o tablet e correram para o quarto para pegar um biquíni para a Pérola.



Na próxima contração, a dor ficou bem intensa e senti o "tal círculo de fogo", que empurrou todo o
meu corpo pra frente de uma forma que eu pensei que fosse perder o equilíbrio. Rafael segurou meu corpo com firmeza. Eu gemi ou gritei de dor, e no momento seguinte, como mágica, ela estava saindo e vindo para meus braços... 

Aquele ser tão pequenino... aqui conosco, nossa filha... que momento precioso! Dandara deu aquele chorinho tão esperado... Anastácia veio correndo do quarto! Em seguida Pérola! E viram a irmã pela primeira vez!
- Sua irmã nasceu!
Rafael balbuciou uma prece, um agradecimento à Deus, com os olhos fechados. (Vi depois essa cena linda na filmagem.)

09 de Abril de 2018 (nove, meu número da sorte). Ás 03:23 hs (vinte e três, número da sorte do seu pai), chegou nossa terceira menina!




Anastácia e Pérola perceberam logo o sangue na água da piscina e desistiram de entrar. kkkkkkkkkk.

A Ana aqueceu a Dandara com fraldas quentinhas, ficamos juntinhos ali alguns minutos.

Primeiros cuidados conosco... ouviram o coraçãozinho dela, aplicaram alguma injeção em mim.

Fomos para a cama. Me sentia fraca e poderosa ao mesmo tempo. O corpo pedia descanso, água, cama... Ao mesmo tempo que sentia um poder imenso, presenciava ali um dos grandes milagres de todos os dias. O nascimento de uma nova vida...

Já deitada, coloco Dandara para mamar pela primeira vez. E como ainda iria acontecer muitas e muitas vezes durante os próximos meses, tenho uma pequena platéia de duas meninas curiosas em cima de mim, elas querem ver, perguntar e entender tudo.



E pela primeira vez nos vemos assim... somos cinco! 


 E essa plaquinha despretensiosa bem aqui... Gratidão!
 Receber aquele carinho da sua filha, depois de um trabalho de parto... não tem coisa melhor!



 Hora do papai cortar o cordão umbilical!


 Dandara já vestida pela Tia Iara, irmãs ainda espantadas com o milagre de receber uma nova vida em casa!




Reconhecimento: papai com sua caçulinha nos braços. 



Enfim, vocês três.
Nossa herança pro mundo.
Nossa aposta em um futuro bom.
Nossa crença que há sim motivos para se ter esperança.
E acreditar em um amanhã melhor todos os dias por vocês, com vocês.

Obrigada minhas filhas, sinto agora, que parte da minha pequena missão nessa Terra se cumpre. Obrigada por confiarem a mim sua vinda para essa experiência incrível chamada Vida!
Gestar, parir, amamentar, cuidar, velar o sono, ouvir a respiração, acudir o choro, ver vocês crescerem todos os dias... são esses os milagres mais lindos que vocês nos dão a honra de presenciar.

Obrigada Rafael, companheiro de todos os momentos. Parceiro, desses que não solta a minha mão, que me aguenta, respeita meu mau humor, e ainda me faz rir.
Obrigada Iara e Ana Cyntia, vocês fazem parte da nossa história. Obrigada pelo carinho, momentos de risadas durante o pré parto, pela mão dada na hora que precisei, pelo olhar confiante de sempre.
Obrigada Mari, pelo registro, por eternizar tudo isso pra gente.


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E esse relato não pode acabar, sem um dos fatos mais extraordinários desse mesmo dia, 9 de abril! Durante nove meses tive uma companheira de gestação, minha cunhada Ana Amélia... durante nove meses reclamamos juntas das dores nas pernas, nas costas, na cabeça, passamos juntas até por pequenos descolamentos de placenta, compartilhamos histórias, ansiedade nos dias de ultrassom, comparamos nossas barrigas e o peso e tamanho dos nossos bebês... mas não imaginávamos que o melhor ainda estava por vir!
Deus havia nos preparado um momento ainda mais surpreendente!
Poucos minutos que Dandara havia nascido, mandamos uma foto nossa na cama no grupo da família.
Logo uma ligação da Ana Amélia... o que ela fazia acordada aquela hora da madrugada?
Estava em trabalho de parto também!!
- Daqui a pouco o Demerson vai aí buscar umas coisas do parto.
- ok, estamos esperando.
Nós e a equipe entramos em estado de êxtase, dá pra acreditar que essas duas vão nascer no mesmo dia?!?
Enquanto a gente finalizava a arrumação do nascimento da Dandara, as parteiras recolhiam o material, arrumávamos as meninas para dormir... "Demerson estava demorando pra chegar."
As parteiras começaram a tirar os carros, eram umas 5 hs... falei pro Rafael, "liga pra Ana, se precisar você já vai agora levar o que eles podem precisar pro parto."
E já na ligação, surpresa! Pétala já nasceu!
Menos de uma hora da primeira ligação e a apressadinha já tinha dado o ar da graça, em um parto a jato, estava já gordinha e cheia de saúde nos braços da mamãe.

... desse dia temos história para contar durante a vida inteira!

Obrigada Deus, por toda a proteção e cuidado.