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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sobre a família que somos


Primeiro encontro, conversas sem fim, risadas, piadas e um suposto ideal a seguir.
Namoro, tantas idas e vindas, beijos, desejos, companheirismo.
Planos, morar juntos, dividir dias, contas e cachorro.
Casamento, festa, juras e lua de mel.
Tantos dias divididos, viagens, sentimentos e rotina.
Um exame positivo, enjoos, exames, 9 meses de sentimentos novos no coração.
Bolsa estourando, contrações, soro na veia, empurrar cadeira de rodas, dar a mão, 8 cm de dilatação: as aventura de um parto normal.
O caos dos primeiros dias, o prazer da adaptação. A alegria do primeiro sorriso. O amor que cresce a cada dia.
E de repente, somos assim, uma família. Com direito a casa com quintal, cachorro latindo, quarto da mãe e do pai, brinquedos espalhados pelo chão da sala. Um babador de molho no tanque, um vazamento no banheiro e a carne descongelando na pia da cozinha. Cenas do cotidiano. Tão nós, tão família.

Não se nasce mãe e pai. Não se sabe ser família, assim do princípio. É  construído aos poucos sem a gente perceber. De repente, somos um colo que acalma uma criança com febre, uma mãe que limpa o catarro do nariz, um homem que cobre a filha antes de dormir. De repente somos porto seguro. A presença que o olhar procura de noite no berço.
De repente nos tornamos tudo aquilo que um dia foram para nós. Assim como mágica, sem curso de preparação e nem prova para testar se somos ou não capazes.
Somos para sempre condutores de almas a nós confiadas. Com a alegria e a dor da mais sublime das responsabilidades.



O que é uma doula?


Uma mulher que é acordada por uma sequência de mensagens de uma grávida completamente inexperiente - ainda que mãe do segundo - em vias de entrar em trabalho de parto.
A bolsa estourou em meados de dezembro, era previsível que o tempo estivesse imprevisível.
Chovia cântaros.
A doçura de seus dedos era tanta, que ultrapassava as frias telas dos celulares em curtíssimas mensagens de apoio, daqui à pouco estou aí.

Uma mulher que deixa filhos e marido em casa para atravessar a cidade na chuva e, sem nenhuma previsão ou expectativa de retorno, oferece-se integralmente como suporte no mais intenso dos rituais de passagem: o nascimento de um ser humano.

Retorno nenhum (fora aquilo que deveria ser para todos o mais valioso dos retornos: ser parte respeitosa do milagre da vida)
Não sabe quando ela vai voltar para os filhos.
Não recebe um valor expressivo em dinheiro.
Não é reconhecida pelo grupo social em que atua - para entender o que é uma doula simplesmente não adianta literatura, jornal, revista ou vizinha que te conte: é preciso ter recebido o acalanto toque de uma no mágico processo de parir um filho.

Sentada na bola, enquanto a gestante repousa na cama.
Deitada no chão, enquanto vão vencendo as contrações na água.
Ao pé da porta, olhando com carinho penetrante, aliviando cada contração com uma sugestão de posição para o corpo, atitude para a alma, alimento para o destino.

Por 48h que deixaram saudade.

Essa mulher está lá para fazer o que ninguém mais faz - olhar para a mãe. Cuja força, equilíbrio e vontades são tão volúveis quanto ignoradas no momento do parto.

Dedicação respeitosa à vida. É disso que se trata uma doula.



Retirado de Super Duper