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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Parte 5 de 6 - Relato de Parto Domiciliar - Nascimento da Pérola



Enfim a borda da piscina estava cheia. Grudamos com uma fita adesiva que com muita oração aguentou até o final. Para encher a água vinha do banheiro por uma mangueira tão fininha que parecia que ia durar um século. Rafael ia e vinha com um balde também para ajudar. E as enfermeiras completavam com a água que ia fervendo no fogão. 

Em algum momento que não me lembro bem o Rafael foi a padaria. Comi uma banana, tomei um copo de leite e comi pão fresquinho com margarina. Me lembrei do jejum total a que fui obrigada no parto da Anastácia e agradeci por nossas escolhas. 
Olhei as paredes da cozinha e elas estavam todas suadas por causa da água fervendo. Achamos graça e abrimos um pouco as janelas para o ar entrar. 

Tentei deitar e descansar um pouco, dormir talvez... mas não consigo, a ansiedade é muita e levanto. Em pouco tempo vem uma vontade grande de ir ao banheiro. Vontade de fazer cocô, uma cólica que se mistura com a contração, mas que eu tenho certeza do que é. No banheiro tenho uma diarréia rápida que esvazia todo meu intestino. Ao sair aviso as parteiras. - "muito bom!", elas dizem. 

Meu corpo funciona, nunca duvidei disso. Ele sabe muito bem o que fazer, me surpreendo, a natureza é realmente perfeita. 

Rafael coloca o DVD do Natiruts para passar e ficamos ali, nós quatro, como que esperando alguma coisa. Sentados no sofá, em um silencio que vez ou outra é quebrado por alguma conversa ou comentário rápido. Enquanto isso as contrações iam e vinham... como uma onda. Quando vinham eu me concentrava para aguentar a dor e quando iam eu respirava e achava que nem tinha doído tanto. 

Mais ou menos às 7:00 hs a fotógrafa me responde pelo whatsapp. 
"Ainda bem que ela acorda cedo!". Pensei. Aviso que pode demorar um pouco e que assim que o TP engrenar eu aviso para ela vir. Ela pergunta se o parto deve ser ainda de manhã. Eu digo que lá pelas 10hs, mas pensando bem pela intensidade das dores, que estavam fracas, tenho dúvidas disso. Talvez só nasça a tarde...

Às 8:00 hs perguntei para as parteiras se já devo chamar a fotógrafa. Aviso pelo wahtsapp que ela já pode vir. As dores começam a ficar mais fortes e eu me contorço toda no sofá quando a contração vem. 
A piscina já estava pronta e a Iara pergunta se não quero entrar para aliviar um pouco. Digo que não, não quero ficar muito tempo na piscina, só vou entrar a hora que for nascer mesmo. Não gosto dos dedos enrrugados e não quero molhar meu cabelo.

Fico ali no sofá mais uns 40 min. deitada no Rafael e curtindo as contrações que vão ficando mais fortes. A Iara vê minha cara de dor durante cada contração e sugere novamente que eu entre na piscina: 
-Vai ser bom entrar na água quente. Vai aliviar a dor, você vai ver.

Entro na piscina meio contrariada, achando que ainda vai demorar muito para a Pérola nascer. Peço para o Rafael pegar a presilha que eu havia separado para prender a franja. Meu cabelo está assim um tanto curto que fica caindo no meu rosto e eu não quero molhar o cabelo. "Não posso passar as mãos molhadas no cabelo", pensei. "Essa escova ainda dura uns dias.". 

A água estava bem quentinha e de fato eu dei uma relaxada. As dores ainda não estavam tão fortes, mas não sei porque me veio uma sensação de que já estava bem perto dela nascer. 
- Rafael, acorda a Anastácia. 

Ela veio nos braços do Rafael e ficou ali na borda da piscina, ainda um pouco assustada com a quantidade de gente na casa àquela hora (nessa hora a fotógrafa também chegou). Ela me deu beijo, abraço e ficou ali na borda da piscina. 

Alguns minutos e o Rafael também resolve entrar. Eram 9 horas mais ou menos. Ele colocou o maiô na Anastácia e de repente tá todo mundo dentro da piscina.
Pronto, como sempre sonhei que seria. Que lindo, a Anastácia vai ver a irmã nascer. 
 

Desse momento em diante tudo fica meio confuso, acho que entrei na partolândia que tanto falam. A dor ficou bem forte e peço para o Rafael fazer massagem nas minhas costas. Massagem não, pode apertar com bastante força. Mais forte. Mais forte. Isso.
Vez ou outra as enfermeiras vinham com o aparelhinho para ouvir o coração da Pérola. Estava tudo bem.

Eu não conseguia raciocinar direito, fechava os olhos a cada contração e isso me dava a impressão de que estava tudo escuro. Não via mais ninguém ali. Não tinha fotógrafa, não tinha as enfermeiras, nem ninguém, era só eu dentro da piscina. Tudo escuro no meu mundo particular. Foi até estranho quando vi as fotos e percebi que estava claro.

Acho que foram mais umas 4 contrações bem doloridas, eu apoiava todo meu corpo na borda da piscina, fechava os olhos e dava uns gemidos que se transformavam em gritos ao final. "Meu Deus, vai nascer."
Entre uma contração e outra fiquei com vontade de pedir para elas fazerem um toque e me dizer com quantos centímetros de dilatação eu estava. Mas antes que eu pudesse pedir, vinha outra contração.

Vi que elas olhavam através da água com a lanterna e acho que foi nessa hora que a ficha caiu e tive a certeza que ela já ia nascer. 


Senti a Pérola descer mais ainda e coroar. Fui me encostando na beirada, tentando achar uma posição, abrir mais a perna, sei lá. Rafael também tentando achar uma posição para pegá-la quando ela nascesse. 
- Ela vai nascer agora.
Acho que foi o ápice da dor, o tal círculo de fogo, que não senti no parto da Anastácia pois a médica foi logo me cortando para ela nascer rápido.

O tal círculo de fogo durou poucos segundos e junto meu corpo fez uma força imensa. 
Ploft. Senti uma coisa estourar entre minhas pernas. "Foi a bolsa que estourou" ouvi alguém falar. Coloquei a mão e senti a cabeça dela.

- Nasce minha filha!
Gritei, mal respirei e já veio outra contração. Fiz mais duas forças e senti primeiro a cabeça e em seguida todo o corpo dela saindo. Rafael a pegou, sorrindo. E ela imediatamente ao sair da água deu uma resmungadinha que mal chegou a ser choro. A Anastácia colocou a mão na boca, como sempre faz quando se espanta com algo. 
A Ana Cyntia trouxe as fraldas para aquecê-la. 
Tão pequenininha que fez a mão do Rafael parecer imensa. Veio para meus braços. Abracei, beijei, olhei cada detalhe dela. As mãos pequenas, a cabeça quase sem cabelo. Ainda roxinha, ainda ligada a mim pelo cordão umbilical. Me perguntava como aquele serzinho cabia dentro de mim.

Ficamos ali alguns minutos ainda, ela no meu colo mergulhada com o corpo na água quente, Rafael conversando com a Anastácia e mostrando para ela a "Péia", como ela mesmo fala.

Eu estava maravilhada, parecia um milagre, nosso pequeno milagre, acontecendo ali na sala da nossa casa. 
Toda a dor passou. Passou e foi esquecida. Respiramos agradecidos. 








"A luz do melhor momento, o livre nascimento e o agradecimento" - Chico Anysio




Ainda continua... rsrsrs.





Um comentário:

  1. Que lindo... emocionante. Familia abençoada a sua. Momento mágico. Amo cada relato seu... Parabéns!

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