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quinta-feira, 21 de junho de 2012

A dor e a delícia de ser mãe

Bebê recém saído do útero + mãe de primeira viagem = essa cara é de prazer ou dor?

Porque raios ninguém me falou que amamentar dói? Ou melhor, pode doer, se... Como é que passei uma vida inteira, uma gravidez inteira sem essa informação?
Sabe, me preparei friamente para a dor do parto. "Trabalhei meu psicológico" para isso.
Preparei meu corpo e alma. Passei tranquilamente por essa fase, conforme já desabafado aqui em 7 relatos.

Mas aí veio a amamentação. E junto com ela a dor mais intensa que eu já havia sentido. Dessas de dar vontade de bater com a cabeça na parede.

Amamentar precisa ser antes de tudo uma escolha. Uma escolha pessoal, diga-se de passagem. Da mãe, mulher e mamífera que vos fala. É claro que o apoio do maridão e da família são essenciais. Mas essa escolha deve ser pessoal, e deve ser agarrada com unhas e dentes, senão se desiste no primeiro seio rachado.

Minha saga: primeiro, o leite demorou a "descer". Nada fora do normal, mas o suficiente para uma mãe despreparada se desesperar levemente. Eu disse levemente. Depois me explicaram que é normal o leite demorar até 3 dias para descer e que para o bebê o colostro é suficiente nesses primeiros dias de vida. Mesmo assim, o pediatra passou um complemento (o famoso NAN). Demos o complemento por uns 3 dias, mas só quando ela chorava muito e depois de deixar ela sugar muito o peito. Nesses primeiros dias o peito ainda não havia rachado e não doía tanto. Era suportável.

Depois lá pelo 4º dia, o leite desceu. Aí foi só alegria. Ou não.
Bom, os dois seios feriram simultaneamente e eu sentia muita dor ao dar de mamar. Suportei tudo calada. Mentira. Chorei muito. Chorei escondida no banheiro. Chorei aos prantos abraçada ao maridão. Chorei antes de colocar o peito na boca dela. Chorei calada, lágrima rolando enquanto ela se deliciava no peito.


Não tenho vergonha disso. Não desisti. Suportei cada segundo de dor e continuei a alimentar minha cria. Como toda mãe que a natureza preparou: com útero, ovários e mamas para a deliciosa tarefa da maternidade.

O que aprendi:
(ou melhor, estou aprendendo...)

- Prepare seus seios: tome sol nos seios durante a gestação, faça o bico (caso você não tenha), passe/esfregue bucha vegetal durante o banho e faça qualquer outra simpatia que sua vó ensinar. Vale de tudo para preparar os seios para essa árdua tarefa.
- Esqueça a vergonha e a timidez: uma hora ou outra todos verão suas peitolas, isso é inevitável. Acostume-se com a ideia!
- Beba muita água!
- Ajude o bebê a fazer a "pega" correta. Isso quer dizer, auxiliar ele a abocanhar a maior parte de auréola possível. Vale empurrar mais pele para dentro da boca enquanto ele mama. Ou sair puxando com o dedo os lábios do bebê para fora (fazendo a famosa boca de peixinho). Nesse quesito vale também ver vídeo no You Tube ensinando.
- Sutiãs de amamentação nunca serão sexys! Mas, em compensação, você ficará com seios fartos, dignos de Pâmela Anderson.
- O correto é bebê no peito e não peito no bebê. Senão você ficará igual eu, toda dura e retorcida tentando chegar o peito no bebê e no final ainda ficará com uma baita dor na coluna!
- Coloque o bebê em diversas posições para mamar. Cada vez que o bebê mama, sua boquinha pega em determinadas partes do seu peito/mamilo. Mudando de posição, a cada mamada essas partes serão outras, aliviando a dor, caso o seu peito esteja machucado.
- Manter a calma. Você não é e nem será a última a passar por isso, e acredite, essa fase vai passar! O peito vai cicatrizar, a dor vai sumindo e o prazer de amamentar vai surgindo!
- Passe pomada de lanolina pura, ajuda e muito! E passe também o próprio leite no mamilo após cada mamada, dizem que é cicatrizante!
- Não entre em pânico, isso não resolve nada!
- Relaxe! Se entregue! Se depois de tudo você ficar com os peitos murchos e caídos, você faz uma plástica! Afinal, vivam os avanços da ciência!

Um seio ainda está rachado. O outro praticamente cicatrizado, mas com uma leve dor ainda.
Amamentar não tem preço. Sei que vai valer a pena, cada dor, cada rachadura, cada lágrima. Ver a minha pequena com o corpinho mole depois de cada mamada, aquele leitinho doce escorrendo no cantinho da boca. Matar sua sede, saciar sua fome.

Estou aprendendo dia após dia a suportar a dor. Dor maior do que eu já achei que poderia suportar. Por uma causa maior. Estou aprendendo a me doar. Aprendendo que não tenho controle. 

Aprendendo que tenho escolha. E ela é minha escolha maior.



sábado, 16 de junho de 2012

Relato do Parto - Parte 7 de 7


- Tá saindo a placenta? - perguntei curiosa.
- Tá sim. Tá saindo, já tá acabando.

Eu não sentia nada. Não sei se por causa da anestesia no local ou pela anestesia da emoção. O pediatra ficou segurando ela ao meu lado enquanto a placenta saía.

- Pronto, terminamos, saiu.

O pediatra levou a Anastácia para outra sala, para pesar e fazer aqueles primeiros exames. O maridão, previamente orientado, foi atrás. Culpa do caso Pedrinho e da novela Senhora do Destino. Brincadeira.
Desde de que me descobri grávida a gente conversava sobre isso:

- A mistura é tão grande que o bebê que entregarem pra gente a gente tem que aceitar. Pode ser negro, japonês, branco, cabelo liso, cabelo cacheado e até loiro do olho azul.

Então, o maridão foi atrás conferir a colocação da pulseirinha de identificação.
A médica começou a me costurar.

- E agora, posso beber água?

Não conseguia pensar em outra coisa. O dia todo sem um copo d'água é tortura. A médica pediu para alguém trazer.

- Gelada, por favor.

Enquanto ela me costurava eu bebia aquele copo de água como quem encontra o oásis no deserto. Acho que era uma cena bizarra: eu de pernas abertas, tendo a vagina costurada, sangue no meu colo e eu lá me deliciando num copo d'água. Melhor copo de água que já bebi na vida.

- Rasgou muito? (eu e meu vocabulário totalmente adequado)
- Mais ou menos. Eu cortei para facilitar a saída do bebê. Você não sentiu porque eu dei uma anestesia antes. A gente corta um pouquinho aí quando o bebê sai acaba abrindo mais.

Na hora eu estava tão feliz que nem me indignei com a situação. Fiquei lá sendo costurada por uma episiotomia que eu não pedi! Sinceramente, aqueles pontos estavam me incomodando mais do que parir um filho! Literalmente.

- Pronto?
- Calma, falta um pouco.
- Pronto?
- Tô na metade mais ou menos.
- Pronto?
- Tá quase.
- Pronto?
- Tô terminando.
- Pronto?
- Quase pronto... peraí, tenha calma, tô acabando.

É, eu estava agoniada com aquilo. Mas, enfim, pronto.
Me limparam e fui colocada numa maca. Recebi uma injeção na perna, da qual ninguém me deu satisfação.
Fiquei lá deitada. Haviam mais duas macas com pessoas no centro cirúrgico, fiquei pensando porque essas pessoas estariam ali. Apendicite, quem sabe. Ou então um tumor, ou uma doença qualquer.
Já eu estava ali para dar a luz, trazer uma vida ao mundo. Era a primeira vez que eu estava em um centro cirúrgico e era por um motivo tão bom. Durante longos minutos passaram muitas coisas na minha cabeça... Cadê o "padioleiro" que não vinha me buscar?

Eu ainda sentia sangue escorrendo pelas minhas pernas. Isso não me incomodava. Ainda desceria sangue por alguns dias (no meu caso 15) e isso não é exclusividade de quem teve parto normal. É um saco, mas depois de 9 meses de trégua, até que não era tão ruim assim.

Cheguei ao quarto que estava cheio, com todos querendo ver o rostinho da Anastácia. Ela ainda demorou a subir, apesar de já estar pronta há alguns minutos.
Lá estávamos nós, eu e o maridão, havíamos vencido essa importante etapa da vida. Nossa família se iniciava ali. E o que mais importava, cheia de saúde!

Ela veio ao mundo no dia 30 de maio de 2012, às 18:52 hs. Pesava 2.970 gramas e tinha 49 cm de estatura. Seu rosto estava inchado, dando a impressão de que seus olhinhos fossem puxadinhos como o da mãe. Seus cabelos são negros e aparentemente lisos, fazendo uma leve ondulação nas pontas. Sua pele parecia bem branquinha naquele dia, mas já está ficando morena cor de jambo. É magrelinha e sua bunda é verde.

Tinha um cheirinho doce que eu nunca vou me esquecer. Não se parece em nada com aquele típico cheiro de sabonete de bebê. É um cheiro adocicado, que eu nunca havia sentido, cheiro de vida que acabou de sair do útero.

Parece piegas dizer isso, mas: nunca vou me esquecer deste dia. Com ou sem relato essas cenas ficarão para sempre em minha memória.

Foi você quem me fez mãe.


...


Algumas considerações/críticas sobre o parto:


- Ainda precisamos avançar muito para, de fato, humanizar o parto. A mulher ainda é colocada à parte do saber médico, como se ela não fosse a protagonista de sua própria vida.
- A médica não me permitiu escolher se eu queria, ou não, que ela fizesse uma episiotomia. Ela simplesmente me cortou sem me falar nada. Com certeza para "agilizar" o nascimento.
- Não me permitiram comer, nem beber nada, mesmo depois de feito os exames que indicavam que realmente estava tudo bem com o bebê e que o parto seria normal.
- O bebê foi separado de mim após o nascimento, e ainda demorou para "subir" para o quarto.
- Em momento algum me explicaram porque estavam receitando as medicações. Eu já sabia qual era a indicação de ocitocina porque me informei bem sobre o parto normal e suas intercorrências.


No final o que importa, é que deu tudo certo. Como o maridão sempre falou.






quinta-feira, 14 de junho de 2012

Relato do parto - Parte 6 de 7


A bolsa tinha estourado há mais de 7 horas. A médica já havia dado o ultimato no primeiro momento da consulta, ainda na sala da emergência: após o rompimento da bolsa teríamos 8 horas para que o parto normal acontecesse, senão era cesárea. Sob o risco do bebê entrar em sofrimento por falta de líquido amniótico.

Já havia passado das 18hs quando a técnica de enfermagem veio nos chamar para o próximo exame. Uma ecografia, que eu não havia entendido direito para que. Depois a médica nos explicou: era para ver se havia cordão em volta do pescoço da bebê.
Eu já havia lido que isso não era impedimento para o parto normal: na barriga o bebê não respira, não existe essa desculpa de que o bebê será sufocado pelo cordão. Nasce, retira-se o cordão do pescoço, o bebê respira e pronto. Isso é desculpa de médico que quer forçar cesárea.

O maridão me empurrava na cadeira de rodas para cima e para baixo.
Quando eu me imaginava em trabalho de parto, pensava em uma mulher mais ativa, andando com as próprias pernas. A realidade era outra, eu realmente sucumbi. Sentir as dores da contração e andar ao mesmo tempo com certeza eram coisas incompatíveis naquele momento. Eu sentava na cadeira e curtia as minhas dores com dignidade. Ainda bem que o maridão encarou todo o resto.

Descemos pelo elevador. Durante a ecografia o médico não nos contou muitas novidades, além do que já sabíamos: peso, estatura, tempo de gestação. As contrações ficavam cada vez mais fortes. Durante cada uma delas o médico precisava parar o exame para que eu pudesse me contorcer, dobrar as pernas, gritar um pouco. Com classe, é claro. 
Não fui dessas que gritam acordando todo o hospital. Ou que pronunciam palavrões impronunciáveis. Eu era discreta. Eu só me lembro de dizer: "ai ai ai ai ai...".
O maridão depois me disse que eu falava: "jesus amado, me ajuda!". Eu não me lembro direito, acho que a cada dor eu entrava em um transe do qual só as lembranças mais fortes me ficaram.

Durante o exame a médica chegou novamente e começou a conversar com o médico que fazia a ecografia. Foi então que ela disse que só queria saber se havia circular de cordão. Não havia. Mais um ponto para nós!

Enquanto eu me contorcia durante mais uma contração, a GO disse:
- Já está acabando a ecografia?
- Sim, estou terminando.
- Ela pode continuar deitada na maca, que eu vou fazer um toque para ver a dilatação, acho que deve estar quase na hora!
Exame terminado e mais um toque:
- 8 cm! Vamos direto para o centro cirúrgico - falou e olhou para o maridão.

Bingo! Havia chegado a nossa hora. Tudo perfeito: líquido amniótico bom, dilatação suficiente e o bebê já havia "descido". Eu pensava:  mas já?
Sim, tinha passado tão rápido. Na hora me lembrei dos relatos medonhos que já havia lido, do sofrimento durante o trabalho de parto e tal. E pensava: tudo o que eu tinha vivido até ali tinha sido tão tranquilo! Fichinha!

Me levaram para o tal do centro cirúrgico. Na ante-sala deram uma roupa para o maridão, que ficou lá se trocando. Vi a médica se arrumando também, colocando aquela roupa verde, touquinha e luvas.
Me pediram para levantar da cadeira de rodas e ir andando para a sala de parto. No caminho fui parada por mais uma contração. Quando ela passou continuei.
Me pediram para tirar o sutiã e o avental. Calma, lá vem outra contração. Pronto. Me sentei. Nua, só um lençol por cima.
A cadeira do parto era confortável. Me deixava numa posição sentada, com a bunda quase para fora da cadeira, onde tinha um banquinho no qual a médica ficaria sentada para "pegar" o bebê. Não havia panos me impedindo de ver todo o processo acontecendo. E tinha dois "ferros", um de cada lado, onde eu poderia segurar para fazer mais força.
A médica chegou.

- Quando a contração vier você faz força.
- Mas já?
(o maridão ainda nem havia entrado na sala, depois ele me explicou que a primeira roupa que deram para ele não havia servido.)
- Já! Faz força, faz força de fazer cocô!
- Mas... e se eu fizer cocô? (isso não me saía da cabeça...)
- Não tem problema, pode fazer cocô que a gente limpa.

Vi o maridão entrando na sala enquanto eu fazia a primeira força. Já deu para ver a cabecinha dela.

- Não vai desmaiar, heim pai!
- Não se preocupa, eu vi muito vídeo no You Tube.
Todos riram, eu também.
Olhei para ele e pensei que realmente eu havia escolhido certo.

Vi a médica com uma injeção na mão. Senti uma picada na vagina.
Eu pensei: - Deve ser anestesia local. Mas ela nem me perguntou nada, se eu queria ou não. Como assim? Mas que falta de respeito.
Antes que eu pudesse pensar demais veio a segunda contração.

Eu agarrei com todas as minhas forças as barras de ferro e fiz a força mais intensa do que qualquer prisão de ventre já havia me feito fazer.

- Ótimo, tá fazendo certinho! Ela tá vindo, tá vindo!
Senti a cabeça dela saindo.
- Isso, continua! Faz força que ela já tá aqui!
Senti o corpo dela saindo, rapidamente. Ela sabia nascer. Nossos corpos sabiam trabalhar em harmonia.

Toda a dor passou. Como mágica... não sentia mais nada. Meu corpo era só adrenalina de ter conseguido. Não conseguia me conter.
Na minha imaginação, era essa a hora em que eu pegaria minha filha nos braços e choraria copiosamente.
Não foi o que aconteceu.
A médica cortou o cordão e colocou aquele bebezinho no meu colo. Por segundos fiquei olhando ela chorar, passei a mão em seu rosto. Não chorei. Só sorria, olhava para ela, para o maridão... por segundos... longos segundos... ela ficou ali no meu colo chorando e eu a olhando paralisada diante da cena.
O pediatra a pegou, limpou um pouco seu rosto com o pano. Pegou ela nos braços e ficou com ela ao meu lado, ela não chorava mais. E eu a olhava e passava a mão em seu rosto. Pela primeira vez falei com ela:
- Anastácia, a mamãe tá aqui.

Infelizmente não temos fotos desse momento. A clássica: mamãe, papai e bebê melecado, recém tirado do útero não fará parte do nosso álbum de família.
Descemos para a ecografia sem a máquina fotográfica, que ficou no quarto. Não imaginávamos que após o exame já iríamos direto para a sala de parto. Todas essas cenas ficarão registradas somente nas nossas lembranças. E a Anastácia poderá sentir cada momento ao ler esses textos, quando for maior.

Ah, só pra constar: eu não fiz cocô.

Continua...
(Sim, ainda tem continuação... tem placenta para sair, episiotomia, pontos, a chegada no quarto...)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Relato do Parto - Parte 5 de 7



É essa hora que separa os meninos dos homens, diria o maridão. Ou como convinha naquela hora: as meninas das mulheres.
Sim, a dor. Se durante a gravidez eu já "trabalhava o psicológico" para vivenciar a dor do parto, aquela era a hora decisiva. Quanto de dor eu era capaz de suportar?

A dor do parto será sempre um mistério para quem nunca a vivenciou. Me disseram uma vez que é uma dor de cólica, multiplicada por cem. Me disseram que é uma dor suportável. Me disseram também, ser insuportável. Já compararam com um tijolo saindo da "perseguida", já imaginou? Ou uma melancia saindo pelo buraco do limão (hã?).
Mas, o que é a dor para cada um? Já ouvi dizer que dor nos rins é a pior que existe. Nunca senti. Dor de dente. Nunca senti também. Cortar o dedo no papel. Bater o dedo e a unha cair. Dor de saudades...
Acho que dor é algo intraduzível, indescritível. Sabe quem sente. E cada um sente de uma forma.
Por isso não se assustem, ou se acalmem, com a minha visão da dor ou do parto.

Sim, havia chegado a hora de encontrar meus monstros, meus limites. Seria só eu, mesmo que o maridão estivesse lá para segurar minha mão. Só eu era capaz de dizer até onde iria, e se iria. Precisava vencer o medo e a dor para chegar onde queria.
Quantas mulheres já passaram por isso? Eu pensava a cada contração. Minha tataravó, minha bisavó, minha vó, minha mãe... E era pela força de todas essas mulheres, que estávamos ali, agora, eu e minha filha.

Entramos no quarto. Acho que já eram umas 15:30 hs. Logo as contrações começaram. Vinham bem devagar, nem me incomodavam. Enquanto isso eu conversava com o maridão e a cunhada que apareceu no quarto, achando que a menina já havia nascido. Maridão reclamando que estava com fome. Pediram um lanche para os dois. E eu ali, na seca. Só no soro e na ocitocina.

Logo me encaminharam para a Cardiotocografia. Exame chato. As contrações começaram a ficar bem doloridas.
Me colocaram deitada de costas. Quando eu deitava assim a neném subia em direção ao meu peito e apertava minhas costelas. Doía demais, isso antes de estar em trabalho de parto. Agora imagina essa dor aliada a uma contração! Tentava me concentrar no exame, tava difícil. A técnica de enfermagem me deu um botão que eu devia apertar quando a neném mexesse. Mas quem disse eu sentia ela mexer? Só sentia a dor da contração e a dor na costela. Já tinha uns 20 minutos que estávamos ali. A cada contração eu apertava bem forte a mão do marido. Uma hora até tentei morder. Ele não deixou, me deu um pano.
O exame não estava progredindo como o esperado, eu precisava sentir ela mexer! Não sentia. Comecei a apertar a merd#*& do botão a cada contração. A médica chegou, disse que realmente o resultado do exame não era satisfatório, o coração dela não respondia adequadamente durante as contrações.
Acho que foi mais ou menos aí que eu soltei pro maridão:
- Será que não é melhor fazer logo uma cesárea?
- Calma, vai dar tudo certo. Vai ser normal.

A médica pediu para me virar de lado. Ufa! Que alívio... até as contrações pareciam mais tranquilas nessa posição. Foram mais uns 20 minutos no exame. O aparelho conseguiu pegar melhor o batimento cardíaco da bebê, e... estava tudo certo!
Enquanto ainda estava deitada, a médica fez outro toque.
- 5 cm!
Já estávamos na metade do caminho! Maravilha!
E passou mais dois remédios no soro (plasil e buscopan) para agilizar o processo.

Me levaram de volta para o quarto. Quando chegamos o maridão comeu o lanche apressado, um X-alguma coisa e um copão de suco. E eu lá, a boca até seca de vontade de tomar pelo menos um copo de água.

Era umas 17:30 hs. Continuei curtindo minhas contrações.
- Deita - o marido falava.
- Pede uma bola para fazer exercícios - falava a cunhada.

Eu não aguentava deitar. Não queria fazer exercício nenhum. Só queria "curtir" aquela dorzinha. Que vinha e ia. E era totalmente suportável, tranquila. Era só um "ai ai ai ai" bem baixinho a cada contração.
Eu só ficava pensando: quanto tempo mais iria durar? Será que ia demorar? Será que aquilo já era o ápice da dor? Ou viria algo pior?

Estava chegando o momento... O encontro entre o fim e o começo.


Continua...

......


"A dor do parto é uma dor muito sábia. Vem e vai a cada contração, como as ondas do mar, oferecendo um tempo abençoado para respirar e descansar até o proximo mergulho. Aos poucos a maré sobe e as ondas crescem, ficam imensas e precisamos da humildade da entrega, de oferecer corpo e alma à prova máxima da natureza humana."

Eleonora de Moares

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Relato do Parto - Parte 4 de 7



Chegamos ao hospital, ansiosos e com fome. Acho que já era umas 13 hs.
Se antes eu já andava estranhamente com essa barriga eeeenooorme, agora com essa toalhinha no meio das pernas eu estava digna de chacota.
Enfim: atendimento de emergência, ficha do plano de saúde e rumo a sala da GO plantonista (ginecologista-obstetra). Antes de chegar lá, ela (a GO), já estava me chamando: - Agda! Agda! É você Agda?
- Sim, sou eu. (Eita atendimento eficiente!)

Ela (a GO) tinha uns 32 anos, eu acho, mas tinha carinha de 18. Magrinha, cabelos curtos, calça meio boca de sino e um jeito de falar meio "adola" (adolescente). Entramos na sala. Não conseguíamos nem sentar, adrenalina a mil.
Fomos despejando todas as informações: a bolsa estourou às 11:30, primeira gravidez, 39 semanas e 5 dias. Ah, e parto normal, por favor!
E lá fomos nós para o tal do "toque". 2 cm de dilatação! Isso era ótimo para quem estava com o colo totalmente fechado a uma semana.

- Certo, vamos internar você. Colocar soro com uma medicação para auxiliar o trabalho de parto. Jejum total, ok?
- Hã?
- Não pode comer nada. Nem beber nada. Isso é uma precaução caso o seu parto não evolua como o esperado e tenhamos que fazer uma cesárea.
(Caraca, mas eu nem almoçei! E tô morrendo de sede! Nadica de nada?)
Ela imprimiu diversos papéis. No amarelo escreveu: parto normal. (ótimo, acho que ela entendeu minha vontade), passou um exame (cardiotocografia) que mede os batimentos cardíacos do bebê durante as contrações (para ver se o bebê resiste/aguenta o parto normal) e uma ecografia para ver se tinha circular de cordão (cordão em volta do pescoço).
Nos encaminhou para a internação.

Lá assinei diversos papéis, que o marido leu atentamente. Mas, não tinha quarto disponível. Estavam desocupando um que ainda seria limpo. Nos encaminharam para o pronto socorro para esperar o quarto.

Diversas macas separadas por panos numa sala minúscula. E o banheiro estava sujo. Fiquei pensando nas mulheres que tem que dar a luz nessas condições, ou pior, num corredor de hospital público. Deve ser difícil. Agradeci a Deus pelo nosso plano de saúde.
Antes que eu pudesse estender minhas reflexões, maridão começou a avisar os familiares e alguns amigos de que realmente eu estava em trabalho de parto. Daí em diante, váááaarias ligações. Maridão conversou com todos, explicou que a bolsa tinha estourado mais cedo e tralá lá lá la la....

Alguns ficaram mais nervosos do que nós dois ali, sozinhos, naquele cubículo cercado de panos azuis. Conversamos sobre coisas bobas, ficávamos em silêncio as vezes. Pura intimidade e adrenalina misturadas.

Até aí eu não sentia nada, nada de contrações ou dores. Eu estava calma. Louca pra sentir umas dorezinhas e ter a certeza de que tudo correria como o esperado. Fiquei dando uma conferida no Facebook pelo celular e tirei uma foto da pulseira de identificação para o Instagram. Depois troquei algumas mensagens com uma amiga, também grávida e também com 39 semanas, contando a emoção de ter entrado em trabalho de parto.

Logo a técnica de enfermagem veio com o soro. Eu havia lido em diversos locais que no parto normal humanizado é permitido a mulher comer e tomar líquidos. Li também que não era necessário ficar com o soro na veia. Mas, achei melhor não questionar, afinal era hora de confiar na médica e não queria, de maneira alguma, colocar em risco a saúde da minha bebê.
Então, entrei no soro.
Aquele dia seria marcado pelo "primeira vez na minha vida". Eu nunca tinha sido internada. Nem por corte na testa na infância. Nem dengue. Nem desidratação.
Era a primeira vez na minha vida que iria tomar soro. Primeira vez que iria levar uns pontos. Primeira vez que iria parir. Últimos momentos grávida, primeira vez mãe.

Muita emoção para um dia só.
Após alguns minutos nos encaminharam para o quarto. E nada de contrações até agora.

Continua...

sábado, 9 de junho de 2012

Relato do parto - Parte 3 de 7

Observação: Se você não gosta de ler palavras como vagina, cocô, parir e afins não continue a leitura deste relato!

.....


30 de maio de 2012. Eram 11:30 hs, eu ainda estava dormindo, como era de costume nas últimas semanas: dormindo tarde, acordando tarde. Até aquele momento não tínhamos notícias de que o parto estivesse próximo: na última ecografia a placenta ainda estava grau II, o colo do útero estava fechado e nada de sair o tal do tampão. Na última consulta com a médica, ela marcou o retorno para dali a uma semana e ainda completou:

- Do jeito que essa menina está não sai essa semana. Então, como é provável, até a próxima consulta!

A próxima consulta era amanhã. Fiquei deitada na cama sonolenta, com aquela preguiça danada de levantar. De repente senti uma gosminha lá embaixo (sim, na vagina), e pensei:
- Deve ser o tampão, amanhã na consulta já terei uma notícia boa para a médica!

Continuei deitada: - Depois eu limpo isso - pensei.
De repente, sem que eu pudesse controlar uma água escorreu entre minhas pernas. A bolsa! A bolsa! A bolsa? A bolsa??? A bolsa rompeu? Será?
Corri para o banheiro, queria ver a cor, o cheiro, a textura daquilo. Era transparente, meio gelatinoso, tinha um cheiro estranho de produto de limpeza que agora não sei explicar. Fiquei olhando aquilo por um tempo, acho que sem acreditar. Lembrei do marido falando com ela na noite passada, falando sério com ela que já estava na hora de nascer.
Já estava na sua hora, e havíamos esperado o seu momento. Ela havia escolhido, queria vir ao mundo e estava pronta para essa etapa da vida: nossa "separação", sua vinda ao mundo. Esses seriam meus últimos momentos grávida, logo estaríamos com ela nos braços.

Eu liguei para o marido (como nos filmes, que emoção!):

- Pretinho, acho que a bolsa estourou.
- Estourou? É sério? Tô indo praí. Tô chegando.
E desligou.

Peguei uma toalhinha, coloquei no meio das pernas para conter a água. Liguei de novo para o marido, acho que com medo dele se desesperar, sair correndo sem prestar atenção no trânsito.

- Oi, não precisa ter pressa não, tá? Tô tranquila, vai demorar ainda, pode demorar horas...
- Tá bom, tô tranquilo. Relaxa que tô tranquilo.
- Dirige com calma, tá?
- Tá, tô indo.

Eu estava com fome. Já era meio dia, e eu nem tinha tomado café-da-manhã. Fui para a cozinha, comi umas bolachas e tomei leite com ovomaltine. Passei no quartinho da Anastácia, conferi as malas. Depois tomei um banho, coloquei um vestido e a toalhinha no meio das pernas novamente.
O maridão chegou, começamos a organizar as coisas no carro: duas bolsas, bebê conforto, ecografias da gravidez, cartão do plano de saúde, celular e o carregador. Ah, um travesseiro também, vai saber como são os travesseiros do hospital...
Eu já havia ligado pra médica, e ela havia me tranquilizado, realmente pela descrição a bolsa havia rompido, eu devia manter a calma porque provavelmente o bebê nasceria mais para o final da tarde, uma vez que eu ainda não sentia nenhuma contração. Para nosso azar o trabalho de parto coincidiu justamente com o plantão da nossa médica em outro hospital, e ela não poderia sair de lá para nos atender. Já sabíamos disso e estávamos preparados para fazer o parto com o médico plantonista, se fosse o caso. E era. Eu rezava para que o plantonista fosse bonzinho e esperasse a hora da nossa filha nascer, pelas vias naturais. Tinha muito medo que o médico ficasse pressionando ou inventando desculpas para forçar uma cesárea.

Vai dar tudo certo, pensei assim, o marido que me ensinou. Então vamos para o hospital!

Opa! Peraí, tô com vontade de fazer cocô. Sim, já haviam me dito isso: que a mulher em trabalho de parto sente vontade de "evacuar" (ô palavrinha feia! prefiro fazer cocô mesmo.). Isso acontece porque a cabeça do feto empurra o reto e provoca o desejo de evacuar. A natureza trabalhando para que muitas mamães não passem pelo constrangimento de fazer cocô enquanto dão a luz.  Maravilha então! Nunca fiquei tão feliz diante de uma vontade de fazer cocô!

Pronto. Agora vamos para o hospital!


Continua...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Relato do parto - Parte 2 de 7

Eu já estava ansiosa e cansada. Contava as semanas e os dias, e sempre acordava pensando: "será que vai ser hoje?" Já estava assim há umas duas semanas, quando completei 37 semanas e achava que a qualquer momento o parto poderia acontecer. Mas... não acontecia... e cada dia parecia passar devagar demais para a minha necessidade de controlar as coisas.
Pensando aqui, acho que esse foi o primeiro motivo que me fez hesitar. Sempre gostei de controlar as coisas, prever os acontecimentos, planejar o dia de amanhã... e essa falta de controle já estava me matando. Vi algumas conhecidas/amigas agendar o parto cesáreo e saírem de lá felizes com seus rebentos nos braços, com 38 semanas de gestação... e eu ali, gravidíssima ainda.
Mesmo assim, acalmava meu coração e rezava pedindo a Deus compreensão.
Quando completei 38 semanas parei de trabalhar. A partir daí os dias passavam ainda mais devagar, em casa só esperando a "nossa hora". Ficava as tardes na internet lendo fóruns de grávidas (a maioria já havia dado a luz...) e dicas para estimular o trabalho de parto.

Chegamos então a 39 semanas e 4 dias de gestação, eu já havia apelado pra lua, comer abacaxi, estimulação do mamilo, andar de carro em rua esburacada, rebolar em cima da cama, colocar o terno do marido, e bizarrices incontáveis... porém nada acontecia!

Era 29 de maio de 2012. Durante a tarde eu havia lavado o carro, afinal acho que lavar carro estava a altura de uma boa faxina, mais uma dica da internet para estimular o trabalho de parto.
Chegava ao fim mais uma noite qualquer, após Cheias de Charme, Jornal Nacional e Avenida Brasil. Eu havia acabado de receber a notícia de que minha mãe chegaria na sexta-feira e ficaria por duas semanas comigo, cuidando de mim e ajudando com a Anastácia.
Mas tinha um porém, Anastácia ainda estava aqui dentro!
Foi quando hesitei pela segunda vez, decretei que se ela não nascesse até segunda-feira, eu marcaria a cesárea para a terça! Afinal, na segunda-feira seria a última mudança de lua (cheia!) e eu já teria passado das 40 semanas. Me convenci de que eu já havia esperado o suficiente da natureza. Havia dado a chance e assim, mentindo para mim mesma, esperava ter minha consciência tranquila de que eu havia feito o que estava ao meu alcance.

Mas a natureza é bem mais sábia que eu.
Nesta noite, 29 de maio, o maridão encostou seu rosto bem próximo da barriga e falou sério com a Anastácia:
- Minha filha, sua vó vai chegar na sexta-feira pra ajudar a cuidar de você. Já está na hora de você nascer.
Durante a noite, ele me contou que conversava com ela no sonho:
- Anastácia, eu não vou mais falar com você! Só falo com você agora, quando você estiver aqui fora!

Então Anastácia foi muito obediente. A sua hora havia chegado. Ela seria uma geminiana, alegre, curiosa e comunicativa.

Continua...

Relato do parto - Parte 1 de 7


Bom, começando do princípio, quando uma mulher faz uma escolha para o parto, é natural que as pessoas que convivem com ela queiram saber o porquê, motivos e circunstâncias que a levaram a essa escolha. 

"Mas foi planejado? Você quer parto normal, tá louca? Olha que vai ficar toda relaxada. Você não tem medo de doer? (Sim, e tenho medo de barata voadora também.). E se a criança entrar em sofrimento? Espero que dê tudo certo com vocês, mas que eu saiba, com o desenvolvimento da ciência a cesária é muito mais segura. Ah é porque você nunca sentiu uma dor de contração antes. Mas você sabe que pode ser que você não consiga, né? Porque minha cunhada/amiga/vizinha/amulherdopadeiro ficou 12 horas em trabalho de parto e acabou com cesárea porque... e por aí vai."

Muitas vezes ouvindo tudo isso batia uma insegurança, mas no meu íntimo eu tinha certezas e convicções tão fortes que me faziam ignorar qualquer comentário do tipo. Eu sei que tudo era fruto de uma preocupação até saudável de gente que gosta da gente, que se preocupa, que quer nosso bem e então eu tentava compreender e ao mesmo tempo não me preocupar demais com esses "conselhos".

Durante os 9 meses, me informei, li muito (O que esperar quando você está esperando), assisti muito vídeo no You Tube e programas de TV sobre o assunto ("Um bebê a cada minuto" da Discovery Home & Health, aliás recomendo muito para as grávidas, sexta às 20hs, pois nos EUA o parto normal é bem mais incentivado)... enfim, procurei todas as vias para me sentir segura sobre o que realmente queria.

Não vou dizer que não hesitei, duvidei ou me questionei nesse período, sou humana... mas uma força maior me movia, a certeza de que nós mulheres somos capazes de dar a luz, temos forças muitas vezes desconhecidas por nós mesmas e na maioria das vezes até reprimidas na atualidade. Sim, somos capazes, esse arquétipo de mulher selvagem, esse instinto, intuição de mulher e mãe me movia. Sim, somos geradoras, criadoras, cuidadoras... e capazes de retornar a nossas origens, de nos empoderar desse momento tão sublime que é dar a luz a um filho.

Tudo isso, não me fazia aceitar que um procedimento cirúrgico, em que seriam cortados minha pele e meu útero, fosse aceitável, sem antes tentar as vias naturais do nascer. Sim, eu tentaria, confiaria na natureza, no instinto e em Deus. Não iria me entregar à um parto cirúrgico, sem antes tentar. E isso me movia e me moveu até o derradeiro momento do nascimento da Anastácia, com dor,  ocitocina, episiotomia e principalmente muito sentimento. 

E o sucesso dessa caminhada só aconteceu porque tive ao meu lado o melhor companheiro, escolhido por essa e tantas outras qualidades, que me motivou durante os 9 meses, leu e se informou comigo, assistiu vídeo no You Tube e esteve ao meu lado, segurou minha mão e falou palavras de incentivo em todos os momentos. Ele viveu intensamente esse momento decisivo da vida, tornar-se pai.

Assim começo a relatar esse momento tão importante em minha vida. E espero "inspirar" mulheres e futuras mães a também fazer essa opção para suas vidas. 

Continua...  
(nos intervalos entre uma mamada e outra, uma fralda suja e um chorinho de fome)


.....


Observação: Não quero aqui julgar qualquer mulher que tenha tido parto cesáreo, mas somente contar minha experiência particular, meu ponto de vista, vendo e sentindo tudo a partir do que eu vivi. Acredito que o parto cirúrgico salva muitas vidas e deve ser amplamente usado, quando necessário.