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sábado, 16 de junho de 2012

Relato do Parto - Parte 7 de 7


- Tá saindo a placenta? - perguntei curiosa.
- Tá sim. Tá saindo, já tá acabando.

Eu não sentia nada. Não sei se por causa da anestesia no local ou pela anestesia da emoção. O pediatra ficou segurando ela ao meu lado enquanto a placenta saía.

- Pronto, terminamos, saiu.

O pediatra levou a Anastácia para outra sala, para pesar e fazer aqueles primeiros exames. O maridão, previamente orientado, foi atrás. Culpa do caso Pedrinho e da novela Senhora do Destino. Brincadeira.
Desde de que me descobri grávida a gente conversava sobre isso:

- A mistura é tão grande que o bebê que entregarem pra gente a gente tem que aceitar. Pode ser negro, japonês, branco, cabelo liso, cabelo cacheado e até loiro do olho azul.

Então, o maridão foi atrás conferir a colocação da pulseirinha de identificação.
A médica começou a me costurar.

- E agora, posso beber água?

Não conseguia pensar em outra coisa. O dia todo sem um copo d'água é tortura. A médica pediu para alguém trazer.

- Gelada, por favor.

Enquanto ela me costurava eu bebia aquele copo de água como quem encontra o oásis no deserto. Acho que era uma cena bizarra: eu de pernas abertas, tendo a vagina costurada, sangue no meu colo e eu lá me deliciando num copo d'água. Melhor copo de água que já bebi na vida.

- Rasgou muito? (eu e meu vocabulário totalmente adequado)
- Mais ou menos. Eu cortei para facilitar a saída do bebê. Você não sentiu porque eu dei uma anestesia antes. A gente corta um pouquinho aí quando o bebê sai acaba abrindo mais.

Na hora eu estava tão feliz que nem me indignei com a situação. Fiquei lá sendo costurada por uma episiotomia que eu não pedi! Sinceramente, aqueles pontos estavam me incomodando mais do que parir um filho! Literalmente.

- Pronto?
- Calma, falta um pouco.
- Pronto?
- Tô na metade mais ou menos.
- Pronto?
- Tá quase.
- Pronto?
- Tô terminando.
- Pronto?
- Quase pronto... peraí, tenha calma, tô acabando.

É, eu estava agoniada com aquilo. Mas, enfim, pronto.
Me limparam e fui colocada numa maca. Recebi uma injeção na perna, da qual ninguém me deu satisfação.
Fiquei lá deitada. Haviam mais duas macas com pessoas no centro cirúrgico, fiquei pensando porque essas pessoas estariam ali. Apendicite, quem sabe. Ou então um tumor, ou uma doença qualquer.
Já eu estava ali para dar a luz, trazer uma vida ao mundo. Era a primeira vez que eu estava em um centro cirúrgico e era por um motivo tão bom. Durante longos minutos passaram muitas coisas na minha cabeça... Cadê o "padioleiro" que não vinha me buscar?

Eu ainda sentia sangue escorrendo pelas minhas pernas. Isso não me incomodava. Ainda desceria sangue por alguns dias (no meu caso 15) e isso não é exclusividade de quem teve parto normal. É um saco, mas depois de 9 meses de trégua, até que não era tão ruim assim.

Cheguei ao quarto que estava cheio, com todos querendo ver o rostinho da Anastácia. Ela ainda demorou a subir, apesar de já estar pronta há alguns minutos.
Lá estávamos nós, eu e o maridão, havíamos vencido essa importante etapa da vida. Nossa família se iniciava ali. E o que mais importava, cheia de saúde!

Ela veio ao mundo no dia 30 de maio de 2012, às 18:52 hs. Pesava 2.970 gramas e tinha 49 cm de estatura. Seu rosto estava inchado, dando a impressão de que seus olhinhos fossem puxadinhos como o da mãe. Seus cabelos são negros e aparentemente lisos, fazendo uma leve ondulação nas pontas. Sua pele parecia bem branquinha naquele dia, mas já está ficando morena cor de jambo. É magrelinha e sua bunda é verde.

Tinha um cheirinho doce que eu nunca vou me esquecer. Não se parece em nada com aquele típico cheiro de sabonete de bebê. É um cheiro adocicado, que eu nunca havia sentido, cheiro de vida que acabou de sair do útero.

Parece piegas dizer isso, mas: nunca vou me esquecer deste dia. Com ou sem relato essas cenas ficarão para sempre em minha memória.

Foi você quem me fez mãe.


...


Algumas considerações/críticas sobre o parto:


- Ainda precisamos avançar muito para, de fato, humanizar o parto. A mulher ainda é colocada à parte do saber médico, como se ela não fosse a protagonista de sua própria vida.
- A médica não me permitiu escolher se eu queria, ou não, que ela fizesse uma episiotomia. Ela simplesmente me cortou sem me falar nada. Com certeza para "agilizar" o nascimento.
- Não me permitiram comer, nem beber nada, mesmo depois de feito os exames que indicavam que realmente estava tudo bem com o bebê e que o parto seria normal.
- O bebê foi separado de mim após o nascimento, e ainda demorou para "subir" para o quarto.
- Em momento algum me explicaram porque estavam receitando as medicações. Eu já sabia qual era a indicação de ocitocina porque me informei bem sobre o parto normal e suas intercorrências.


No final o que importa, é que deu tudo certo. Como o maridão sempre falou.






3 comentários:

  1. perfeito!!!
    eu tbm me torturava, enquanto aquela linha me costurava subia e descia, eu sentia me costurando mais não sentia dor, olhava pra Isadora do lado que me olhava, e espirrava(embrulharam ela na lã) e de praxe ela tem alergia como eu =)) hauahauha.mais lindoo é assim com todo mundo Agda, com aquelas diferenças de cada uma, mais momento único parto único coisas ímpares neh..eu não quiz ngm cmg durante o parto..só eu e Isadora sabe oq passamos.hehe

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  2. Ameiiii todos os posts! Lia seus textos e ouvia a sua voz, acredita? Super espontâneos, show!!!!

    Bem vinda princesa Anastácia!!!

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