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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Relato do parto - Parte 6 de 7


A bolsa tinha estourado há mais de 7 horas. A médica já havia dado o ultimato no primeiro momento da consulta, ainda na sala da emergência: após o rompimento da bolsa teríamos 8 horas para que o parto normal acontecesse, senão era cesárea. Sob o risco do bebê entrar em sofrimento por falta de líquido amniótico.

Já havia passado das 18hs quando a técnica de enfermagem veio nos chamar para o próximo exame. Uma ecografia, que eu não havia entendido direito para que. Depois a médica nos explicou: era para ver se havia cordão em volta do pescoço da bebê.
Eu já havia lido que isso não era impedimento para o parto normal: na barriga o bebê não respira, não existe essa desculpa de que o bebê será sufocado pelo cordão. Nasce, retira-se o cordão do pescoço, o bebê respira e pronto. Isso é desculpa de médico que quer forçar cesárea.

O maridão me empurrava na cadeira de rodas para cima e para baixo.
Quando eu me imaginava em trabalho de parto, pensava em uma mulher mais ativa, andando com as próprias pernas. A realidade era outra, eu realmente sucumbi. Sentir as dores da contração e andar ao mesmo tempo com certeza eram coisas incompatíveis naquele momento. Eu sentava na cadeira e curtia as minhas dores com dignidade. Ainda bem que o maridão encarou todo o resto.

Descemos pelo elevador. Durante a ecografia o médico não nos contou muitas novidades, além do que já sabíamos: peso, estatura, tempo de gestação. As contrações ficavam cada vez mais fortes. Durante cada uma delas o médico precisava parar o exame para que eu pudesse me contorcer, dobrar as pernas, gritar um pouco. Com classe, é claro. 
Não fui dessas que gritam acordando todo o hospital. Ou que pronunciam palavrões impronunciáveis. Eu era discreta. Eu só me lembro de dizer: "ai ai ai ai ai...".
O maridão depois me disse que eu falava: "jesus amado, me ajuda!". Eu não me lembro direito, acho que a cada dor eu entrava em um transe do qual só as lembranças mais fortes me ficaram.

Durante o exame a médica chegou novamente e começou a conversar com o médico que fazia a ecografia. Foi então que ela disse que só queria saber se havia circular de cordão. Não havia. Mais um ponto para nós!

Enquanto eu me contorcia durante mais uma contração, a GO disse:
- Já está acabando a ecografia?
- Sim, estou terminando.
- Ela pode continuar deitada na maca, que eu vou fazer um toque para ver a dilatação, acho que deve estar quase na hora!
Exame terminado e mais um toque:
- 8 cm! Vamos direto para o centro cirúrgico - falou e olhou para o maridão.

Bingo! Havia chegado a nossa hora. Tudo perfeito: líquido amniótico bom, dilatação suficiente e o bebê já havia "descido". Eu pensava:  mas já?
Sim, tinha passado tão rápido. Na hora me lembrei dos relatos medonhos que já havia lido, do sofrimento durante o trabalho de parto e tal. E pensava: tudo o que eu tinha vivido até ali tinha sido tão tranquilo! Fichinha!

Me levaram para o tal do centro cirúrgico. Na ante-sala deram uma roupa para o maridão, que ficou lá se trocando. Vi a médica se arrumando também, colocando aquela roupa verde, touquinha e luvas.
Me pediram para levantar da cadeira de rodas e ir andando para a sala de parto. No caminho fui parada por mais uma contração. Quando ela passou continuei.
Me pediram para tirar o sutiã e o avental. Calma, lá vem outra contração. Pronto. Me sentei. Nua, só um lençol por cima.
A cadeira do parto era confortável. Me deixava numa posição sentada, com a bunda quase para fora da cadeira, onde tinha um banquinho no qual a médica ficaria sentada para "pegar" o bebê. Não havia panos me impedindo de ver todo o processo acontecendo. E tinha dois "ferros", um de cada lado, onde eu poderia segurar para fazer mais força.
A médica chegou.

- Quando a contração vier você faz força.
- Mas já?
(o maridão ainda nem havia entrado na sala, depois ele me explicou que a primeira roupa que deram para ele não havia servido.)
- Já! Faz força, faz força de fazer cocô!
- Mas... e se eu fizer cocô? (isso não me saía da cabeça...)
- Não tem problema, pode fazer cocô que a gente limpa.

Vi o maridão entrando na sala enquanto eu fazia a primeira força. Já deu para ver a cabecinha dela.

- Não vai desmaiar, heim pai!
- Não se preocupa, eu vi muito vídeo no You Tube.
Todos riram, eu também.
Olhei para ele e pensei que realmente eu havia escolhido certo.

Vi a médica com uma injeção na mão. Senti uma picada na vagina.
Eu pensei: - Deve ser anestesia local. Mas ela nem me perguntou nada, se eu queria ou não. Como assim? Mas que falta de respeito.
Antes que eu pudesse pensar demais veio a segunda contração.

Eu agarrei com todas as minhas forças as barras de ferro e fiz a força mais intensa do que qualquer prisão de ventre já havia me feito fazer.

- Ótimo, tá fazendo certinho! Ela tá vindo, tá vindo!
Senti a cabeça dela saindo.
- Isso, continua! Faz força que ela já tá aqui!
Senti o corpo dela saindo, rapidamente. Ela sabia nascer. Nossos corpos sabiam trabalhar em harmonia.

Toda a dor passou. Como mágica... não sentia mais nada. Meu corpo era só adrenalina de ter conseguido. Não conseguia me conter.
Na minha imaginação, era essa a hora em que eu pegaria minha filha nos braços e choraria copiosamente.
Não foi o que aconteceu.
A médica cortou o cordão e colocou aquele bebezinho no meu colo. Por segundos fiquei olhando ela chorar, passei a mão em seu rosto. Não chorei. Só sorria, olhava para ela, para o maridão... por segundos... longos segundos... ela ficou ali no meu colo chorando e eu a olhando paralisada diante da cena.
O pediatra a pegou, limpou um pouco seu rosto com o pano. Pegou ela nos braços e ficou com ela ao meu lado, ela não chorava mais. E eu a olhava e passava a mão em seu rosto. Pela primeira vez falei com ela:
- Anastácia, a mamãe tá aqui.

Infelizmente não temos fotos desse momento. A clássica: mamãe, papai e bebê melecado, recém tirado do útero não fará parte do nosso álbum de família.
Descemos para a ecografia sem a máquina fotográfica, que ficou no quarto. Não imaginávamos que após o exame já iríamos direto para a sala de parto. Todas essas cenas ficarão registradas somente nas nossas lembranças. E a Anastácia poderá sentir cada momento ao ler esses textos, quando for maior.

Ah, só pra constar: eu não fiz cocô.

Continua...
(Sim, ainda tem continuação... tem placenta para sair, episiotomia, pontos, a chegada no quarto...)

3 comentários:

  1. QUem chorou copiosamente aqui fui eu........
    Aiai.. que lindo Agda....
    que bom que Anástacia está bem... saudável.....
    Esperando a minha vez chegar...... ansiosa a cada monstra que vem!!!!!
    Mas tudo tem a hora certa....
    Beijos e continue linda.....
    Afinal Anastácia se parece com quem?????

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  2. Ameiiiiiiiiiii, e continuo acompanhando as cenas dos próximos capítulos, semana que vem vou vê-los! bjss

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  3. Bruno Ferrarezi Fagote16 de junho de 2012 às 01:32

    Emoção, comédia, drama, aventura... e isso é só o princípio de uma vida inteira repleta de amor e descobertas que você, Rafael e Anastácia irão viver.
    Estou ansioso para ler seus próximos textos (e como vc escreve bem). Suas vidas ficarão mais completas a partir de agora.... "pode escrever" o que eu estou dizendo.

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