Esses dias pensei muito sobre as fantasias da maternidade, sobre essas mães que dizem que a vida só passou a fazer sentido depois de ter virado mãe (oi?)... e que então “descobriram o amor verdadeiro” e blá blá blá.
Esses dias vi uma filha-adolescente dizer que não tinha
pedido pra nascer. E que “não quero que você seja minha amiga” para a pobre
mãe-desconsolada, que abarrotou a cabeça de expectativas sobre a tal filha a
vida inteira.
Esses dias chorei escondida com medo do dia em que minha
própria filha vai ter vergonha de mim e vai bater a porta do quarto na minha
cara. Será?
E esses dias eu me abracei a ela, beijei ela todinha, e
deixei ela ficar batendo com o brinquedo na minha cara achando graça disso
tudo. Fiquei observando seu pezinho futucando minha cara enquanto eu tentava
esticar a soneca da manhã e ela não estava mais afim de dormir.
A sociedade louca me fez acreditar que eu podia abraçar o
mundo inteiro de uma só vez, e agora eu me vejo me culpando por falhas banais. Me
disseram que todas nós somos mulher-maravilha, uma profissional pró-ativa, que cumpre
os horários, uma dona de casa impecável, que garante que a casa esteja limpa, a
roupa passada e a comida quentinha no forno, uma esposa/amante/quente/atenciosa
e ainda uma mãe doce, calma, que senta no chão para brincar, não dá comida
industrializada e não hipnotiza a criança com programas de TV e ainda está
sempre linda, penteada e sorridente.
E na prática eu percebo que no dia em que me desgasto no
trabalho, sou uma péssima esposa que não consegue nem estabelecer um diálogo
saudável em família. E
no dia em que sou uma ótima esposa/atenciosa/amante, não consigo dormir cedo, o
que significa que no outro dia ficarei como uma sonâmbula no trabalho. E no dia
em que fui uma mãe impecável que brincou no chão, no sofá, na rede, na caixa de
brinquedos, deixei todas as coisas sem arrumar e no outro dia vou me atrapalhar
toda e chegar atrasada ao trabalho.
Enfim, não dá.
Por isso já desisti de abraçar esse tal mundo e me contento
em tentar ser uma boa esposa e criar crianças saudáveis, adultos confiantes,
educados e que terão carreiras promissoras. Será que dá? Porque no meio de tudo
isso ainda tem que caber mais alguns filhos. Dane-se o resto.
Acho que isso é o que me importa agora. Depois eu penso
no tal do mestrado, doutorado e salvar as criancinhas da África.
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